quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A FUNIVALE e o Vale do Jequitinhonha


FUNIVALE – Uma UNIVERSIDADE LIVRE, EXPERIMENTAL e COMUNITARIA
no Vale do Jequitinhonha – Minas Gerais – Brasil



 texto escrito por:

Sandra Viviane de Moura (Educadora Socioambiental, São Gonçalo, MG),


Martin Wilhelm Kuhne (Professor, São Gonçalo do Rio das Pedras, MG ),


                                                                                          Luís Carlos Mendes Santiago( Escritor, Pedra Azul, MG ),


Evandro Sathler (Advogado socioambientalista, Niterói, RJ ),


                                          Carlos Humberto Mendes Gothchalk ( Teólogo, Conferencista, Escritor, São Paulo, SP),


A foz do Rio Jequitinhonha está situada em Belmonte no estado da Bahia à cerca de 50 km do local onde, no ano de 1500, o Brasil foi “descoberto” pelos Portugueses. Poucas décadas depois toda essa costa do descobrimento passou a integrar a Capitania de Porto Seguro, onde foram instituídas escolas jesuítas para catequizar os povos nativos (denominados índios) da nação Tupiniquim, além de plantações de cana-de-açúcar e engenhos para produzir o açúcar. Porém, esse primeiro surto de progresso pouco durou, pois os índios Aimorés conseguiram expulsar os Portugueses da região.
Já no início do século XVIII, a região da foz do Jequitinhonha voltou a ser povoada por súditos do rei português, que submeteram os moradores da foz do Rio Jequitinhonha, índios  da nação Camacã, à “civilização”. O rio não tinha ainda o nome de Jequitinhonha, era conhecido como Rio Grande, ou Rio Paticha, no falar indígena. O aldeamento situado na sua foz tinha o nome de Nossa Senhora do Carmo, ou Nossa Senhora do Carmo do Paticha. 
Enquanto  isso acontecia na foz do rio, nas suas nascentes, situadas a mais mil quilômetros dali, os Portugueses    exploravam ouro desde os primeiros anos do século XVIII e diamantes a partir da década de 1720, porém não sabiam que o Rio Jequitinhonha era o mesmo Rio Grande de Belmonte. A mineração determinou uma ordem social totalmente diferente daquela existente na foz. Os indígenas foram sumariamente expulsos , escravizados,  assimilados à sociedade portuguesa ou exterminados.
Ao longo dos séculos XVII E XIX centenas de milhares de escravos de origem africana foram “importados” para executar os trabalhos pesados da mineração.   Os moradores que viviam nas proximidades dos rios e córregos onde se exploravam diamantes tiveram que abandonar suas terras e moradias. Todos que entravam ou saíam do Distrito Diamantino eram rigorosamente revistados. 
Em 1780 o governo português criou uma empresa estatal para explorar os diamantes na região, a Real Extração. Nesse novo período, as leis restritivas específicas para aquela região se tornaram ainda mais autoritárias.
Em 1805, uma expedição saiu de Belmonte subindo o Rio Grande e descobriu que era  ele o mesmo Rio Jequitinhonha da região diamantina. No ano seguinte, 1806, a família real portuguesa, sob a ameaça das tropas de Napoleão Bonaparte, mudou-se para o Brasil. Um grande número de nobres e cortesãos acompanhou a corte portuguesa e “precisava” agora de terras para serem “proprietários”.
Os Aimorés da região de Porto Seguro, na Bahia, agora conhecidos com a denominação de Botocudos, tinham afluído para o Leste de Minas. Portanto, era necessário “civilizá-los” ou exterminá-los para que os Portugueses pudessem tomar posse das terras. Foi então declarada Guerra contra o Gentio Botocudo, em 1808. Para essa guerra foram criados vários quartéis e divisões militares, nos estados da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. Porém os soldados portugueses se mostravam inoperantes contra as táticas de guerrilha dos Botocudos. O exército português passou, então, a utilizar os índios Maxacalis, Pataxós, Camacãs e Tupiniquins na guerra de extermínio contra os Botocudos. Foram esses índios de diferentes nações, inclusive Botocudos “pacificados”, os moradores das primeiras cidades do médio Jequitinhonha.
Uma vez pacificados os Botocudos, os colonizadores da região se voltaram contra os índios das demais nações e também contra os escravos africanos fugidos que viviam nos rincões mais afastados e contra os pequenos posseiros. Essa nova ocupação da região  se deu com muita violência, pois os grandes proprietários de terras tomavam as pequenas fazendas de descendentes de índios e de africanos que haviam se estabelecido na região há  gerações.
Massacres de indígenas e expulsões de posseiros se repetem ao longo de todo o período. Na década de 1970, por exemplo, milhares de pequenos proprietários do Alto Jequitinhonha, que não possuíam títulos das terras que ocupavam há gerações, foram expulsos de suas terras pelo governo de Minas Gerais, para que grande empresas plantassem eucalipto. Já no século XXI, comunidades inteiras foram “transferidas” para outras terras para dar lugar a construção de uma grande barragem hidrelétrica.
Paralelamente a essa guerra surda, existe um processo de interação entre as diferentes etnias da região. Esse processo de convivência entre as etnias existe desde os tempos coloniais, quando os Portugueses se uniam às escravas de origem africana ou indígena, que se tornavam, assim, prestigiosas senhoras. O caso mais famoso é o da escrava Chica da Silva, que se tornou esposa do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, embora nunca tenha oficializado a união. Sua vida tem sido retratada em romances, filme de longa metragem, série de televisão e trabalhos acadêmicos, que fazem dela a escrava mais conhecida na História do Brasil. Mas Chica da Silva é apenas um exemplo deste processo bem mais amplo de miscigenação de etnias e enlaces culturais.
No Vale do Jequitinhonha, cada cidade e cada comunidade promove, anualmente, as festas do Rosário, do Divino com batuques, danças e rezas que lembram as coroações e cerimônias realizadas pelos povos da sua formação histórica. 
A riqueza e a vitalidade cultural da região surpreendem e fascinam pela originalidade,  diversidade e criatividade que se manifestam na música, no artesanato, na cozinha, na religiosidade e na própria linguagem da população. Porém, a riqueza mineral, a variedade de ecossistemas, a diversidade e as peculiaridades culturais têm valido pouco aos moradores do Vale do Jequitinhonha, que possui um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano do Brasil e continua dependente de outras regiões para alimentar seu povo. Ao longo das últimas décadas, muitos projetos se propuseram a modificar esse quadro, partindo dos governantes, universidades e organizações não-governamentais (ONGs). Entretanto a imensa maioria dessas propostas não teve continuidade, por não serem construídas a partir e junto com as comunidades.
Foi este contexto complexo, diferenciado e, em muitos aspectos, paradoxal que um grupo de estudantes da FAFIDIA* - sob a liderança do Prof. Martin Kuhne - criou a FUNIVALE em 1989. Sendo, esta criação, resultado das reflexões e dos questionamentos num seminário sobre as obras de Baruch Espinosa, do jovem Karl Marx, de Albert Schweitzer, Josué de Castro, Erich Fromm , Paulo Freire,  Hans Jonas e, mais recentemente, de Ivan Illich, E.F. Schumacher, Leopold Kohr, Gustavo Esteva, Leonardo Boff e Dom Mauro Morelli.  
Com seu nome programático de uma UNIVERSIDADE, LIVRE, EXPERIMENTAL E COMUNITARIA**, uma universidade “com os pés no chão e a cabeça nas nuvens”, uma universidade que não se prende à escolaridade formal para dar  liberdade aos discentes, pensou-se  uma universidade como espaço de encontro, diálogo e busca de soluções a partir do reconhecimento da complementaridade do saber engenhoso e habilidoso popular e do conhecimento científico- formal- acadêmico, aberta para novos caminhos e experimentações, uma universidade que ensine e exercite o pensar crítico, auto- critico, criativo e cuidante, uma universidade construída a partir do esforço coletivo que contribui para a melhoria da vida das comunidades e seus integrantes, uma universidade na qual cooperam mentes, corações e braços construindo,  produzindo e cuidando da vida. O processo educativo que a FUNIVALE fomenta tem como compromisso a emancipação das pessoas e comunidades, num processo aberto em permanente transformação e construção, onde os aprendizes e educadores se confundem, podem e devem inverter suas funções em todos os contatos. A renúncia ao privilégio sócio-intelectual  se exercita, em todos os momentos, para neutralizar as diferenças entre o aprendiz e o educador.
Para transformar o que pareceu, para muitos, uma utopia num sonho realizável, o grupo recorreu às boas experiências de vida comunitária no próprio Vale e outras feitas durante a II Guerra Mundial na Bildungsstaette St. Bonifatius em Elkeringhausen. Com a Escola Superior de Pedagogia de Weingarten, também na Alemanha, conquistou-se pelo Professor Dr. Wolfgang Marcus um grande número de simpatizantes  e apoiadores.
A partir de sua formalização enquanto entidade e de seu reconhecimento como de utilidade pública pelo Estado de Minas Gerais, muitos projetos foram concebidos, vários realizados, outros guardados para o futuro. No decorrer dos anos descobrimos que nossa universidade é processo e não uma instituição com prédios, um corpo docente fixo, diplomas acadêmicos etc. Nossa experimentação não se faz em um laboratório com cobaias e tubos de ensaio, sim, em um “Campus de 80.000 km2” com mais de 80 municípios e cerca de 1.000.000 habitantes onde os indivíduos e a coletividade são, ao mesmo tempo, os sujeitos e os objetos da sua experimentação.
Entre estes projetos destacamos, como os primeiros, o “TERRA MAE” e o “BERÇO DA FLORA”. O primeiro se inspirou no problema relacionado ao uso dos recursos naturais para a produção de gêneros alimentícios e tem por objetivo básico o incentivo à produção de hortifrutigranjeiros através de técnicas orgânicas e permaculturais que respeitem o meio ambiente. Sua primeira amostra está na sede da FUNIVALE, no distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras (Serro – MG) onde funciona uma horta modelo de cultivo orgânico, sem utilização de adubos ou defensivos químicos. Atualmente 12 famílias trabalham e produzem para sua subsistência, enriquecendo a sua tradicional maneira de se alimentarem e oferecendo o excedente como fonte de uma renda extra. Outra experiência na comunidade rural de Boa Vista de Lajes onde 50 famílias têm suas hortas orgânicas individuais para consumo próprio e comercialização ou troca solidária do excedente.
Neste projeto está previsto o trabalho de educação para o uso sustentável dos recursos naturais e para outras formas de aproveitamento das potencialidades locais para produção de complementos alimentares  são ações cotidianas do nosso trabalho junto às comunidades. Para viabilizar minimamente que as ações planejadas vinguem tornou-se muito importante  as parcerias com órgãos municipais, estaduais, federais e do terceiro setor, na busca de soluções , tanto para realizar o trabalho educativo quanto para financiamento de pequenos projetos comunitários.
O Projeto BERÇO DA FLORA ataca o problema da supressão da flora, causado pelo extrativismo mineral  e o desmatamento causado por várias outras atividades. Este projeto objetiva a produção de essências da flora nativa destinadas ao replantio e recuperação de áreas degradadas e funciona agregado, física e metodologicamente, à estrutura do Projeto TERRA MAE.  Estão previstas atividades de educação ambiental junto a pequenos grupos de diferentes faixas etárias para estudo da flora local, para a produção de material didático – pedagógico próprio. A experiência dos últimos dois anos com a formação de crianças e adolescentes em botânica básica, com coletivos de jovens, com lideranças comunitárias e futuramente em noções práticas de arqueologia possibilita a descoberta de novas vocações e a compreensão da natureza e história local e regional. Enfim, atividades que possibilitem que as pessoas possam conhecer seu mundo e, assim, assumir sua responsabilidade de cuidados com o ambiente.
Outras iniciativas que comprovam que a nossa atuação está preocupada não somente com a sustentabilidade, mas com o desenvolvimento dos indivíduos são os encontros, oficinas, festivais que são realizados com o apoio da FUNIVALE.
A missão da FUNIVALE, que não se limita a projetos, segue procurando descobrir potencialidades naturais e sociais, pela utilização de  tecnologias inovadoras, mas menos consumistas e o aprimoramento de habilidades individuais e coletivas. Nossa grande busca, no entanto, é provocar a reflexão sobre a ação. A primeira sendo um hábito entre intelectuais, estudiosos, estudantes e acadêmicos e a última sendo hábito entre o agricultor, a dona de casa ou garimpeiro. Encontrar o ponto que possibilite o diálogo entre quem vive refletindo e quem vive executando é nosso exercício constante considerando a dinâmica natural da vida em evolução.
Na FUNIVALE estamos refletindo sobre a nossa presença nos pequenos lugarejos do Vale do Jequitinhonha, pois nos apresentamos como uma das alternativas para que pessoas que não têm nenhuma perspectiva de formação possam desenvolver suas habilidades, suas potencialidades em busca de uma vida mais digna. Não queremos que as comunidades sintam o peso de nossa presença nem de nossa ausência. Procuramos ajudar que os indivíduos e comunidades busquem e criem condições para seu processo de emancipação sócio – cultural e político- econômico.
As experiências dos 19 anos são intensas e imensuráveis do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Não há como medir a transformação das e nas pessoas, mas essa transformação é perceptível. As comunidades e suas lideranças estão observando a realidade por outro ângulo, as crianças e adolescentes estão sendo incentivados a questionar o mundo e seu papel nele e um número crescente de pessoas busca uma relação mais respeitosa com a natureza.
Por outro lado, a FUNIVALE ainda não alcançou os objetivos que inspiraram sua criação. A real dimensão da sua proposta não foi visualizada na época de sua criação, pois as discussões acerca de temas como desenvolvimento sustentável, diversidade étnica e cultural ainda não eram correntes. Estes e mais  temas são foco de discussões nos seminários e encontros regionais. Em 19 anos, inúmeros  outros problemas emergiram agravados pelo neoliberalismo e a globalização. Mas, nem por isso, a chama da FUNIVALE apagou-se. Quanto maior o grau de dificuldade maior é a força de luta no enfrentamento das questões. Considerando, ainda, as limitações na gestão da entidade para alcance de nossos objetivos existem questões que não foram contornadas e carecem  de solução. Com prioridade esta a implementação de uma equipe técnica e profissional capacitada para alavancar os projetos em andamento e poder fazer a gestão da entidade e deflagrar  tantos outros projetos incubados. Para tanto são necessários recursos financeiros que podem ser investidos por apadrinhamento individual ou grupos de parceria solidária.
As dificuldades financeiras vividas pela FUNIVALE refletem os problemas econômicos enfrentados diariamente pela população do Vale do Jequitinhonha e estes problemas impedem que a própria população possa assumir financeiramente entidades como a nossa. Não podemos contar com ajudas do poder público para nos manter. Por isso são tão necessárias as ajudas financeiras das pessoas e entidades de países em melhores condições. Em nossas experiências sempre mencionamos o quanto a ajuda financeira solidária de ONG’s alemãs, austríacas e italianas e da undação brasileira VITAE que possibilitou a compra das terras para a horta e a construção do Prédio Paulo Freire significa para nós décadas depois. O investimento aconteceu e, a partir dele, continuamos iniciar ou ampliar nossas atividades e ações. Quando solicitamos ajuda financeira para uma atividade, estamos buscando condições para iniciar novos processos de transformação de uma realidade que nos incomoda e dificulta nossa   luta contra sua histórica injustiça. Quando não conseguimos estes recursos financeiros, o iniciar dos processos é retardatário e a lamentável conseqüência é observada nas comunidades onde ainda não pudemos oferecer nossas mãos. 
Outro grande desafio é lidar com a ação dominadora, exploradora e excludente do poder econômico junto à população, numa ação simultaneamente monstruosa e sutil, presente, inclusive, nos gabinetes de gestores de órgãos públicos que criam e recriam programas e projetos com objetivos imediatistas e assistencialistas. E também nas organizações civis que ainda praticam a “lei da compensação” trabalhando não para transformar as pessoas, mas para manterem a si mesmas e à ordem. Tentando influenciar a construção de um novo modelo de reflexão onde o indivíduo seja princípio, meio e fim das ações participamos de inúmeras comissões, fóruns, conselhos, seminários, reuniões e projetos, formando redes de interesses junto com outras entidades, apoiando, com nossa presença, as iniciativas de outros na melhoria das condições de vida na região. A todo instante tentando  diariamente chamar a atenção das três esferas do poder público para uma nova leitura da realidade. Desta forma são fortalecidas as condições para que nossa população possa permanecer em sua terra natal com dignidade e boas perspectivas.
Escrever sobre as experiências e perspectivas de um empreendimento como a FUNIVALE Ela é, sobretudo, uma oportunidade de expressar a grande significância de seu papel numa região como nosso Vale do Jequitinhonha. Com ela como instrumento da população queremos construir caminhos inversos onde possamos agir, tentar, errar, acertar, questionar, renovar os vínculos comunitários de todas as idades, cultivar afetos a tudo que faz bem e constrói a vida no Vale, buscar e descobrir que precisamos começar de novo... com um compromisso único conosco e, ao mesmo tempo, com toda a humanidade.

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* FAFIDIA (Faculdade de Filosofia de Diamantina) e da FAFEOD  (Faculdade Federal de Odontologia)  naquela época as  únicas instituições de ensino superior no Vale do Jequitinhonha.
 **Desde o inicio de sua história e que trabalhamos coletivamente através de reflexão, questionamento e formulação das idéias e sua elaboração  em criativas “tempestades cerebrais”.
Maiores informações:
funivale.blogspot.com
Rua Campo das Flores, 96, São Gonçalo do Rio das Pedras, Serro, Minas Gerais, Brasil, CEP 39 153 000
Maiores informações sobre o Vale do Jequitinhonha:



terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A VIDA DA FUNIVALE

Neste ano muitas pessoas trabalharam para que a Funivale realizasse seu trabalho da forma mais simples e séria possível. Terminamos o ano com boas lembranças, objetivos alcançados, mas muitas frustrações, ainda com muitos sonhos a realizar. Talvez esta seja a rotina de muitas entidades, de muitas pessoas. Ainda temos muito o que construir, muitas lutas para fortalecer o bem e construir tempos de mais justiça, de mais cuidado com a Terra, de mais pessoas felizes. Sabemos da força que existe dentro de nós e que nos levará além do que somos hoje. Estas são algumas das pessoas que dedicaram seu tempo e suas energias dentro da Funivale em 2009. infelizmente falta-nos vários rostos de conselheiros e amigos que ainda poderiam completar este belo quadro.




Mártin Wilhelm Kuhne - presidente

 
Waldemir de Jesus Santos - vice - presidente (até agosto)


Devanil Ferreira da Cunha  - atual Vice - presidente



Laerte da cunha - Diretor Social



Marcilene Aparecida Correia - Diretora Financeira



Marcelo dos Santos Ribeiro -
monitor de plantios agroecológicos


Sandra Viviane de Moura
Educadora socioambiental

 
Evandro S. Bastos
Assessor Jurídico

domingo, 20 de dezembro de 2009

COP15: o fracasso.

                                                    É a treva: rumo ao desastre

Leonardo Boff
 
Uma jovem e talentosa atriz de uma novela muito popular, Beatriz Drumond, sempre que fracassam seus planos, usa o bordão:”É a treva”. Não me vem à mente outra expressão ao assistir o melancólico desfecho da COP 15 sobre as mudanças climáticas em Copenhague: é a treva!  Sim, a humanidade penetrou numa zona  de treva e de horror. Estamos indo ao encontro do desastre.  Anos de preparação, dez dias de discussão, a presença dos principais líderes políticos do mundo não foram suficientes para espancar a treva mediante um acordo consensuado de redução de gases de efeito estufa que impedisse chegar a dois graus Celsius. Ultrapassado esse nível e beirando os três graus, o clima não seria mais controlável e estaríamos entregues à lógica do caos destrutivo, ameaçando a biodiversidade e dizimando milhões e milhões de pessoas.

O Presidente Lula, em sua intervenção no dia mesmo do encerramento, 18 de dezembro, foi a único a dizer a verdade:”faltou-nos inteligência” porque os poderosos preferiram barganhar vantagens a salvar a vida da Terra e os seres humanos.

Duas lições se podem tirar do fracasso em Copenhague: a primeira é a consciência coletiva de que o aquecimento é um fato irreversível, do qual todos somos responsáveis, mas principalmente os paises ricos. E que agora somos também responsáveis, cada um em sua medida, do controle do aquecimento para que não seja catastrófico para a natureza e para a humanidade. A consciência da humanidade nunca mais será a mesma depois de Copenhague. Se houve essa consciência coletiva, por que não se chegou a nenhum consenso acerca das medidas de controle das mudanças climáticas?

Aqui surge a segunda lição que importa tirar da COP 15 de Copenhague: o grande vilão é o sistema do capital com sua correspondente cultura consumista. Enquanto mantivermos o sistema capitalista mundialmente articulado será impossível um consenso que coloque no centro a vida, a humanidade e a Terra e se tomar medidas para preservá-las. Para ele centralidade possui o lucro, a acumulação privada e o aumento de poder de competição. Há muito tempo que distorceu a natureza da economia como técnica e arte de produção dos bens necessários à vida. Ele a transformou numa brutal técnica de criação de riqueza por si mesma sem qualquer outra consideração. Essa riqueza nem sequer é para ser desfrutada mas para produzir mais riqueza ainda, numa lógica obsessiva e sem freios.

Por isso que ecologia e capitalismo se negam frontalmente. Não há acordo possível.O discurso ecológico procura o equilíbrio de todos os fatores, a sinergia com a natureza e o espírito de cooperação. O capitalismo rompe com o equilíbrio ao sobrepor-se à natureza, estabelece uma competição feroz entre todos e pretende tirar tudo da Terra, até que ela não consiga se reproduzir. Se ele assume o discurso ecológico é para ter ganhos com ele.

Ademais, o capitalismo é incompatível com a vida. A vida pede cuidado e cooperação. O capitalismo sacrifica vidas, cria trabalhadores que são verdadeiros escravos “pro tempore” e pratica trabalho infantil  em vários paises.

Os negociadores e os lideres políticos em Copenhague ficaram reféns deste sistema. Esse barganha, quer ter lucros, não hesita em pôr em risco o futuro da vida. Sua tendência é autosuicidária. Que acordo poderá haver entre os lobos e os cordeiros, quer dizer, entre a natureza que grita por respeito e os que a devastam sem piedade?

Por isso, quem entende a lógica do capital, não se surpreende com o fracasso da COP 15 em Copenhague. O único que ergueu a voz, solitária, como um “louco” numa sociedade de “sábios”, foi o presidente Evo Morales: “Ou superamos o capitalismo ou ele destruirá a Mãe Terra”.

Gostemos ou não gostemos, esta é a pura verdade. Copenhague tirou a máscara do capitalismo, incapaz de fazer consensos porque pouco lhe importa a vida e a Terra mas antes as vantagens e os lucros materiais.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Confrontos em Copenhague

Leonardo Boff
Teólogo
                                                Confrontos em Copenhague

 Em Copenhague nas discussões sobre as taxas de redução dos gases produtores de mudanças climáticas, duas visões de mundo se confrontam: a da maioria dos que estão fora da Assembléia, vindo de todas as partes do mundo e a dos poucos que estão dentro dela, representando os 192 estados. Estas visões diferentes são prenhes de conseqüências, significando,  no seu termo, a garantia ou a destruição de um futuro comum.

Os que estão dentro, fundamentalmente, reafirmam o sistema atual de produção e de consumo mesmo sabendo que implica sacrificação da natureza e criação de desigualdades sociais. Crêem que com algumas regulações e controles a máquina pode continuar produzindo crescimento material e ganhos como ocorria antes da crise.

Mas importa denunciar que exatamente este sistema se constitui no principal causador do aquecimento global emitindo 40 bilhões de toneladas anuais de gases poluentes. Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo.

Ocorre que estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana.

Não passa pela cabeça dos representantes dos povos que a alternativa é a troca de modo de produção que implica uma relação de sinergia com a natureza. Reduzir apenas as emissões de carbono mas mantendo a mesma vontade de pilhagem dos recursos é como se colocássemos um pé no pescoço de alguém e lhe dissésemos: quero sua liberdade mas à condição de continuar com o meu pé em seu pescoço.

Precisamos impugnar a filosofia subjacente a esta cosmovisão. Ela desconhece os limites da Terra, afirma que o ser humano é essencialmente egoista e que por isso não pode ser mudado e que pode dispor da natureza como quiser, que a competição é natural e que pela seleção natural os fracos são engolidos pelos mais fortes e que o mercado é o regulador de toda a vida econômica e social.

Em contraposição reafirmamos que o ser humano é essencialmente cooperativo porque é um ser social. Mas faz-se egoísta quando rompe com sua própria essência. Dando centralidade ao egoísmo, como o faz o sistema do capital, torna impossível uma sociedade de rosto humano. Um fato recente o mostra: em 50 anos os pobres receberam de ajuda dois trilhões de dólares enquanto os bancos em um ano receberam 18 trilhões. Não é a competição que constitui a dinâmica central do universo e da vida mas a cooperação de todos com todos. Depois que se descobriram os genes, as bactérias e os vírus, como principais fatores da evolução, não se pode mais sustentar a seleção natural como se fazia antes. Esta serviu de base para o darwinismo social. O mercado entregue à sua lógica interna, opõe todos contra todos e assim dilacera o tecido social. Postulamos uma sociedade com mercado mas não de  mercado.

A outra visão dos representantes da sociedade civil mundial sustenta: a situação da Terra e da humanidade é tão grave que somente o princípio de cooperação e uma nova relação de sinergia e de respeito para com a natureza nos poderão salvar. Sem isso vamos para o abismo que cavamos.

Essa cooperação não é uma virtude qualquer. É aquela que outrora nos permitiu deixar para trás o mundo animal e inaugurar o mundo humano. Somos essencialmente seres cooperativos e solidários sem o que nos entredevoramos. Por isso a economia deve dar lugar à ecologia. Ou fazemos esta virada ou Gaia poderá continuar sem nós.

A forma mais imediata de nos salvar é voltar à ética do cuidado, buscando o trabalho sem exploração, a produção sem contaminação, a competência sem arrogância e a solidariedade a partir dos mais fracos. Este é o grande salto que se impõe neste momento. A partir dele Terra e Humanidade podem entrar num acordo que salvará a ambos

Leonardo Boff é autor de Convivência, tolerância e respeito, Vozes 2008.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ONU pressiona por acordo em Copenhague


Copenhague, dezembro de 2.009 - O secretário-executivo da Convenção do Clima das Nações Unidas, Yvo de Boer, pressionou nesta quarta a comunidade internacional a seguir o "plano de ação" de Copenhague (Dinamarca) e chegar a um acordo sobre a redução de emissões de dióxido de carbono (CO2).

"Só há um Plano A, não há um Plano B de ação", disse o austríaco em coletiva de imprensa em Bonn (Alemanha), na qual apresentou as expectativas para a Convenção da ONU sobre Mudança Climática.

A reunião dinamarquesa, marcada para 7 a 18 de dezembro, busca um acordo internacional de redução de emissões de CO2 que substitua o Protocolo de Kioto, que expira em 2012. Segundo o Painel Intergovernamental da Mudança Climática (IPCC), os países industrializados devem reduzir as emissões entre 25% e 40% em 2020 frente a 1990.

"Há muito em jogo. Não resta tempo para manobras técnicas nem para estratégias nacionais", afirmou De Boer. Para ele, é essencial que esse acordo não seja uma mera "declaração política", mas fixe os objetivos concretos de redução dos países industrializados, os planos dos emergentes e o financiamento que será destinado à adaptação para a luta contra a mudança climática. "Já em 2010, os países ricos deverão pôr sobre a mesa US$ 10 bilhões para a mitigação e a adaptação à mudança climática dos países em desenvolvimento", apontou.

Segundo os cálculos da ONU, a longo prazo, as necessidades de financiamento poderiam chegar a US$ 200 bilhões anuais para o corte de emissões e US$ 100 bilhões para financiar medidas de adaptação ao aquecimento global. Para o secretário, o novo acordo deve estabelecer também de forma muito clara os sistemas através dos quais se administrará esse financiamento, de modo que seja possível empreender "ações imediatas" nos países em desenvolvimento.

De Boer celebrou o fato de o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter decidido ir a Copenhague e qualificou sua presença de "crucial" para a adoção de um acordo que possa se transformar em um tratado vinculativo já nos primeiros meses de 2010. "O mundo está olhando para Washington", afirmou o austríaco, que acrescentou que os EUA são o único país industrializado que ainda não fixou objetivos concretos encaminhados a reduzir as emissões de CO2.

Os EUA lançaram um projeto de lei que contempla uma redução até 2020 de entre 17% e 20% em relação aos níveis de 2005 - os demais países tomam 1990 como referência.

De Boer afirmou também que não vê "motivos" para que os EUA pudessem se abster de assinar o acordo de Copenhague, apesar de não assinar o atual Protocolo de Kioto.

Ele ainda minimizou a possibilidade de um tratado vinculativo não sair de Copenhague diretamente - um objetivo que se deu por perdido durante as negociações prévias. "Um acordo sólido permitirá que as medidas entrem em vigor de maneira imediata, sem ter de esperar a que entre em vigor o mecanismo político correspondente", assegurou.

De Boer elogiou os "planos ambiciosos" de países como China, Índia, México e Indonésia e citou que Brasil, Rússia e Coréia do Sul apresentaram propósitos similares nos últimos dias. "Precisamos de um último impulso por parte dos países industrializados", acrescentou o austríaco, que frisou que os países emergentes "parecem dispostos a cumprir sua parte".

De Boer pediu à União Européia (UE) - que ofereceu uma redução de 20% que poderia elevar a 30% se outros países fizerem esforços similares - a esclarecer a condicionalidade de sua proposta e a deixar claro quais são seus objetivos.

A urgência de atuar frente ao aquecimento global ficou clara esta semana depois que o estudo científico internacional "Diagnóstico Copenhague" advertiu que, se medidas não forem aplicadas, a temperatura poderia subir até 7 graus no final do século, muito acima do limite de 2 graus defendido pelos especialistas.

Segundo o relatório, que teve participação do Instituto de Pesquisa do Clima de Potsdam, nos últimos 15 anos o nível do mar subiu mais de 5 centímetros e poderia subir mais de 2 metros no final do século, mais que o dobro que o estimado até agora.

A mobilização para acordo cresce em Copenhague, diz ONU

Líderes de vários países se uniram na sexta-feira (27) em uma ofensiva diplomática para tentar assegurar um acordo do clima da ONU em Copenhague no próximo mês. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que um acordo está "ao alcance".

Ban e o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, que vai ser o anfitrião do encontro de 7 a 18 de dezembro, celebraram o que descreveram como um crescente momentum internacional para um pacto de redução das emissões de gases de efeito estufa e contenção do aquecimento global.

"Nosso objetivo comum é conseguir uma fundação sólida para um tratado legal sobre o clima tão cedo quanto possível em 2010. Estou confiante que nós estamos no caminho certo para isso", disse Ban, durante a cúpula dos líderes dos países do Commonwealth em Trinidad e Tobago.

"Cada semana traz novos compromissos e promessas --de países industrializados, economias emergentes e países em desenvolvimento", acrescentou.

"Um acordo está ao nosso alcance... Nós precisamos selar um acordo em Copenhague", disse Ban. Ele, Rasmussen e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, compareceram à cúpula das 53 nações do Commonwealth como convidados especiais para influenciar em um consenso para um pacto sobre o clima.

Rasmussen disse que a Dinamarca recebeu uma resposta "imensamente positiva" ao seu convite a líderes de nações do mundo para atender ao encontro no próximo mês. "Mais de 85 chefes de Estado e governos confirmaram a presença em Copenhague e há ainda muitos considerando positivamente", disse.

Ele pediu a países desenvolvidos para se comprometerem firmemente com a redução de gases de efeito estufa e para que "coloquem indicadores na mesa para antecipadamente" financiar a ajuda a nações pobres para combater as mudanças climáticas.

"A necessidade de dinheiro em cima da mesa --isso é o que nós queremos conseguir em Copenhague", disse Rasmussen em uma entrevista coletiva.

Rasmussen e Ban receberam com entusiasmo uma proposta feita mais cedo pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, para a criação de um fundo de US$ 10 bilhões por ano para ajudar países em desenvolvimento na batalha contra os efeitos do aquecimento global.

Brown afirmou que esse financiamento deveria estar disponível já no próximo ano, bem antes de um acordo sobre o clima ser implementado.

"Nós estamos diante de uma emergência climática: nós não podemos esperar até 2013 para agir", disse Brown.

Fonte: Portal Terra

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Projeto de embelezamento de comunidades turísticas

2009/11/25
 
 
 
 
 
 
 
Amigos
 
Foi aprovado pelo FUNDIF ( Fundo Estadual de Direitos Difusos) projeto de reestilização das comunidades de Três Barras e de Vau, apresentado pelo Instituto Cidades. Estas comunidades estão antes e depois de Milho Verde, no trecho da Estrada Real que liga Serro a Diamantina.
Igualmente aprovados os projetos apresentados pela Prefeitura de Monjolos, Agencia Circuito dos Diamantes e a associação AMA Barão, referentes a outros 3 projetos de reestilização para outras 3 comunidades ( Rodeador, Conselheiro Matta e Barão de Guaicuí ) que eram paradas da antiga linha férrea que ia de Corinto a Diamantina.
Tratam-se dos primeiros projetos de reestilização jamais aprovados.
Este é portanto um momento histórico para a nossa entidade, sendo aquele de onde passamos do conceito para o concreto.
Estamos neste momento ultimando e consolidando as articulações com os representantes destas comunidades que serão os nossos parceiros locais durante o desenrolar das intervenções.
Não havendo nenhum contatempo, a parte executiva das intervenções deve ter inicio ainda no proximo mês de janeiro.
 
Com a proximidade do vencimento do prazo estatutário da diretoria do Instituto Cidades, procedemos à definição de uma nova chapa para dirigir a entidade.
Assim, a nova diretoria do Instituto Cidades será,
André Tenuta - Presidencia,
Eri Pimenta - Diretoria Executiva
José Maria Vidal - Tesouraria
 
Saudações   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Três Barras